Galileo descobriu os satélites de Júpiter e comunicou seus dados a Johannes Kepler (1571-1630), que os observou pessoalmente. Os satélites obedecem às Três Leis de Kepler, porém com um valor da constante kdiferente na 3a Lei (P2=k a3).
Sessenta anos depois, o inglês Isaac Newton (1643-1727) foi quem deu uma explicação completa ao movimento e à forma como as forças atuam. A descrição está contida nas suas 3 leis:
Primeira Lei: Inércia, é baseada na enunciada por Galileo, embora Galileo não tenha realmente chegado ao conceito de inércia. Na ausência de forças externas, um objeto em repouso permanece em repouso, e um objeto em movimento permanece em movimento, ficando em movimento retilíneo e com velocidade constante. Esta propriedade do corpo que resiste à mudança, chama-se inércia. A medida da inércia de um corpo é seu momentum. Newton definiu o momentum de um objeto como sendo proporcional à sua velocidade. A constante de proporcionalidade, que é a sua propriedade que resiste à mudança, é a sua massa:
Segunda Lei: Lei da Força, relaciona a mudança de velocidade do objeto com a força aplicada sobre ele. A força líquida aplicada a um objeto é igual à massa do objeto vezes a aceleração causada ao corpo por esta força. A aceleração é na mesma direção da força.
Terceira Lei: Ação e Reação, estabelece que se o objeto exerce uma força sobre outro objeto, este outro exerce uma força igual e contrária.Newton pôde explicar o movimento dos planetas em torno do Sol, assumindo a hipótese de uma força dirigida ao Sol, que produz uma aceleração que força a velocidade do planeta a mudar de direção continuamente.Como foi que Newton descobriu a Lei da Gravitação Universal? Considerando o movimento da Lua em torno da Terra e as leis de Kepler.
Aceleração em órbitas circulares: o holandês Christiaan Huygens (1629-1695), em 1673 e, independentemente, Newton, em 1665 (mas publicado apenas em 1687, no Philosophiae naturalis principia mathematica,27 MB PDF)
No instante t a partícula está em D, com velocidade
Após um intervalo de tempo dt, a partícula está em G, percorreu a distância v.dt, e está com velocidade
Consideremos infinitésimos:
Seja
Mas
e, portanto, a aceleração a=dv/dt:
Se a partícula tem massa m, a força central necessária para produzir a aceleração é:
Claramente a dedução é válida se
Gravitação Universal
Obviamente a Terra exerce uma atração sobre os objetos que estão sobre sua superfície. Newton se deu conta de que esta força se estendia até a Lua e produzia a aceleração centrípeta necessária para manter a Lua em órbita. O mesmo acontece com o Sol e os planetas. Então Newton formulou a hipótese da existência de uma força de atração universal entre os corpos em qualquer parte do Universo.A força centrípeta que o Sol exerce sobre um planeta de massa m, que se move com velocidade v à uma distância r do Sol, é dada por:
Assumindo neste instante uma órbita circular, que mais tarde será generalizada para qualquer tipo de órbita, o período P do planeta é dado por:
Pela 3a Lei de Kepler,
Seja m a massa do planeta e M a massa do Sol. Substituindo-se esta velocidade na expressão da força centrípeta exercida pelo Sol (Fc) no planeta, a força pode então ser escrita como:
e, de acordo com a 3a. lei de Newton, o planeta exerce uma força igual e contrária sobre o Sol. A força centrípeta exercida pelo planeta sobre o Sol, de massa M é dada por:
Newton deduziu então que:
Derivação da "Constante" k
A atração gravitacional entre eles depende da distância total entre eles e é dada por:
Já a aceleração centrípeta é dirigida ao centro de massa e é dada por:
e
Como estamos assumindo órbitas circulares e, por definição de centro de massa, os períodos têm que ser os mesmos, ou o centro de massa se moveria, temos:
e similarmente para m2. Para que os corpos permaneçam em órbitas, as forças precisam ser idênticas:
e
Eliminando-se
ou:
Isso nos diz que a "constante" K, definida como a razão
Mas, se considerarmos sistemas onde os corpos principais são diferentes, então as razões
Determinação de massas
A terceira lei de Kepler na forma derivada por Newton pode se escrita como:que nada mais é do que a última parte da equação (2), onde foi substituído
- massas em massas solares, período em anos e a em Unidades Astronômicas
- massas em massas terrestres, período em meses siderais (27,33 dias) e a em distância Terra-Lua
Da mesma forma, observando-se o tamanho da órbita de uma estrela dupla, e o seu período orbital, pode-se deduzir as massas das estrelas no sistema binário. De fato, pode-se usar a terceira lei de Kepler na forma revisada por Newton para estimar a massa de nossa Galáxia e de outras galáxias.
Exemplos de uso da 3a lei de Kepler
Exemplo 1Qual é a massa do Sol? Sabemos que a Terra orbita o Sol em 1 ano. Podemos usar a relação
e lembrar que a = r1 + r2 = 1 UA = 1,5 ×1011 m. Reescrevendo:
Como G = 6, 67×10-11 m3 kg-1 s-2 e P= 1 ano = 3, 16×107 s, obtemos
Deimos, o menor dos 2 satélites de Marte, tem período sideral de 1,262 dias e uma distância média ao centro de Marte de 23500 km. Qual a massa de Marte?
Podemos resolver este problema de diversas maneiras. Aqui vamos mostrar algumas delas.
- Calculando a massa de Marte diretamente em massas terrestres. (Vamos usar a notação: Marte = Ma; Deimos = D; Terra =
e Lua = L).
- Uma maneira de resolver o problema é compararando os parâmetros da órbita de Deimos em torno de Marte com os parâmetros da órbita da Lua em torno da Terra, sem introduzir o valor da constante.Desprezando a massa de Deimos e da Lua frente às massas de seus respectivos planetas, podemos escrever:
MMaKMa = MK
sendo KMa = (PD)2/(aD)3e K= (PL)2/(aL)3
Então:
=
=
Sabendo que:PL = 27, 32 dias
PD = 1, 262 dias
aL = 384 000 km
aD = 23 500 km
Temos:
=
= 0, 1
- Podemos chegar ao mesmo resultado usando a expressão formal da 3.a lei de Kepler (equação 1.3), escrevendo as distâncias em termos da distância Terra-Lua, as massas em massas terrestres, e os períodos em termos do período da Lua, ou seja, usando o sistema de unidades [distância T-L (dTL), massa terrestre (M
), mês sideral ( mes)]:
MMa + mDMMa =
Fazendo as transformações de unidades:PD = (1, 262/27, 32) meses = 4, 62×10-2 meses
aD = (23500/384000) dTL = 6, 1×10-2 dTL
G = 4(dTL)3/(M
meses2)
= 1 (M
meses2)/(dTL)3
Temos:
MMa =M
- Uma maneira de resolver o problema é compararando os parâmetros da órbita de Deimos em torno de Marte com os parâmetros da órbita da Lua em torno da Terra, sem introduzir o valor da constante.Desprezando a massa de Deimos e da Lua frente às massas de seus respectivos planetas, podemos escrever:
- Calculando diretamente a massa de Marte em massas solares (M
).
- Compararando o movimento de Deimos em torno de Marte com o movimento da Terra em torno do Sol:
MMaKMa = MK
onde K= (P
)2/(a
)3e KMa = (PD)2/(aD)3
Então:
=
=
Sabendo que:P= 365, 25 dias
PD = 1, 262 dias
a= 1, 5×108 km = 1 UA
aD = 2, 35×104 km
Temos:
=
= 3, 2×10-7
- Usando a equação 1.3 e adotando o sistema de unidades [UA, M
, ano].
MMa + mDMMa =
Fazendo a transformação de unidades:PD = (1, 262/365, 25) anos = 3, 46×10-3 anos
aD = (2, 35×104/1, 5×108) UA = 1, 57×10-4 UA
G = 4UA3/(M
ano2)
4
/G = 1 (M
ano2)/UA3
Temos:
MMa =M
- Compararando o movimento de Deimos em torno de Marte com o movimento da Terra em torno do Sol:
- Calculando diretamente a massa de Marte em quilogramas, ou seja, usando os sistema internacional [m, kg, s]
MMa + mDMMa =
Escrevendo todos os dados em unidades do sistema internacional:
PD = 1, 262 dias = 1, 09×105 s
aD = 23 500 km = 2, 35×105 m
G = 6, 67×10-11 m3/(kg s2)
Temos:
MMa =
Segunda Lei de Kepler = Conservação do momentum angular
Portanto
Um pouco mais de história:
Em sua próprias palavras, Newton, como citado no prefácio do catálogo dos Portsmouth Papers, descreve como utilizou as Leis de Kepler para derivar a gravitação universal. "In the year 1665, I began to think of gravity extending to the orb of the Moon, and having found out how to estimate the force with which [a] globe revolving within a sphere presses the surface of the sphere, from Kepler's Rule of the periodical times being in a sesquialterate proportion of their distances from the centers of their orbs I deduced that the forces which keep the Planets in their orbs must [be] reciprocally as the squares of their distances from the centers about which they revolve: and thereby compared the force requisite to keep the Moon in her orb with the force of gravity at the surface of the earth, and found them answer pretty nearly."
© Kepler de Souza Oliveira Filho & Maria de Fátima Oliveira Saraiva
Modificada em 6 abril 2010
Fonte: http://astro.if.ufrgs.br/newton/index.htm